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sábado, 1 de dezembro de 2018

76 A Verdadeira Propriedade


O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

Cap. 16 - SERVIR A DEUS E A MAMON

PASCAL - Genebra, 1860

9 – O homem não possui como seu senão aquilo que pode levar deste mundo. O que ele encontra ao chegar e o que deixa ao partir; goza durante sua permanência na Terra; mas, desde que é forçado a deixá-los, é claro que só tem o usufruto, e não a posse real. O que é, então, que ele possui? Nada do que se destina ao uso do corpo, e tudo o que se refere ao uso da alma: a inteligência, os conhecimentos, as qualidades morais. Eis o que ele traz e leva consigo, o que ninguém tem o poder de tirar-lhe, e o que ainda mais lhe servirá no outro mundo do que neste.

Dele depende estar mais rico ao partir do que ao chegar neste mundo, porque a sua posição futura depende do que ele houver adquirido no bem. Quando um homem parte para um país longínquo, arruma a sua bagagem com objetos de uso nesse país e não se carrega de coisas que lhe seriam inúteis. Fazei, pois, o mesmo, em relação à vida futura, aprovisionando-vos de tudo o que nela vos poderá servir.

Ao viajante que chega a uma estalagem, se ele pode pagar, é dado um bom alojamento; ao que pode menos, é dado um pior; e ao que nada tem, é deixado ao relento. Assim acontece com o homem, quando chega ao mundo dos Espíritos: sua posição depende de suas posses, com a diferença de que não pode pagar em ouro. Não se lhe perguntará: Quanto tínheis na Terra? Que posição ocupáveis? Éreis príncipe ou operário? Mas lhe será perguntado: O que trazeis? Não será computado o valor de seus bens, nem dos seus títulos, mas serão contadas as suas virtudes, e nesse cálculo o operário talvez seja considerado mais rico do que o príncipe.

Em vão alegará o homem que, antes de partir, pagou em ouro a sua entrada no céu, pois terá como resposta: as posições daqui não são compradas, mas ganhas pela prática do bem; com o dinheiro podeis comprar terras, casas, palácios; mas aqui só valem a qualidades do coração. Sois rico dessas qualidades? Então, sejas bem vindo, e teu é o primeiro lugar, onde todas as venturas vos esperam. Sois pobre? Ide para o último, onde sereis tratado na razão de vossas posses.

M., Espírito Protetor - Bruxelas, 1861

10 – Os bens da Terra pertencem a Deus, que os dispensa de acordo com a sua vontade. O homem é apenas o seu usufrutuário, o administrador mais ou menos íntegro e inteligente. Pertencem tão pouco ao homem, como propriedade individual, que Deus freqüentemente frustra todas as suas previsões, fazendo a fortuna escapar daqueles mesmos que julgam possuí-la com os melhores títulos.

Direis talvez que isso se compreende em relação à fortuna hereditária, mas não aquela que o homem adquiriu pelo seu trabalho.

Não há dúvida que, se há uma fortuna legítima, é a que foi adquirida honestamente, porque uma propriedade só é legitimamente adquirida quando, para conquistá-la, não se prejudicou a ninguém. Pedir-se-á conta de um centavo mal adquirido, em prejuízo de alguém. Mas por que um homem conquistou por si mesmo a sua fortuna, terá alguma vantagem ao morrer? Não são freqüentemente inúteis os cuidados que ele toma para transmiti-la aos descendentes? Pois se Deus não quiser que estes a recebam, nada prevalecerá sobre a sua vontade.

Poderá ele usar e abusar de sua fortuna, impunemente, durante a vida, sem ter de prestar contas? Não, pois ao lhe permitir adquiri-la, Deus pode ter querido recompensar, durante esta vida, os seus esforços, a sua coragem, a sua perseverança; mas se ele somente a empregou para a satisfação dos seus sentidos e do seu orgulho, se ela se tornou para ele uma causa de queda, melhor seria não a ter possuído. Nesse caso, ele perde de um lado o que ganhou de outro, anulando por si mesmo o mérito do seu trabalho, e quando deixar a Terra, Deus lhe dirá que já recebeu a sua recompensa.
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quinta-feira, 15 de novembro de 2018

75 Guardai-vos da Avareza


O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

Cap. 16 - SERVIR A DEUS E A MAMON

3 – Então lhe disse um homem da plebe: Mestre, dize a meu irmão que reparta comigo da herança. Porém Jesus lhe respondeu: Homem, quem me constitui a mim juiz, ou partidor, sobre vós outros?

Depois lhe disse: Guardai-vos e acautelai-vos de toda avareza, porque a vida de cada um não consiste na abundância das coisas que possui. Sobre o que lhes propôs esta parábola, dizendo: O campo de um homem rico tinha dado abundantes frutos, e ele revolvia dentro de si estes pensamentos, dizendo: Que farei, que não tenho onde recolher os meus frutos? Farei isto, disse ele: derrubarei os meus celeiros e os farei maiores; e neles recolherei todas as minhas novidades, e os meus bens. E direi à minha alma: Alma minha, tu tens muitos bens em depósito para largos anos: descansa, come, bebe, regala-te. Mas Deus disse a este homem: Néscio, esta noite te virão demandar a tua alma, e as coisas que tu ajuntaste, para quem serão?

Assim é o que entesoura para si, e não é rico para Deus. (Lucas, XII: 13-21).
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quinta-feira, 1 de novembro de 2018

74 Desigualdade das Riquezas


O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

Cap. 16 - SERVIR A DEUS E A MAMON

8 – A desigualdade das riquezas é um dos problemas que em vão se procuram resolver, quando se considera apenas a vida atual. A primeira questão que se apresenta é a seguinte. Por que todos os homens não são igualmente ricos? Por uma razão muito simples: é que não são igualmente inteligentes, ativos e laboriosos para adquirir, nem sóbrios e previdentes para conservar. Aliás, é uma questão matematicamente demonstrada que, supondo-se feita essa repartição, o equilíbrio seria rompido em pouco tempo, em virtude da diversidade de caracteres e aptidões; que, supondo-a possível e durável, tendo cada um somente o necessário para viver, isso equivaleria ao aniquilamento de todos os grandes trabalhos que concorrem para o progresso e o bem estar da humanidade; que, portanto, supondo-se que ela desse a cada um o necessário, desapareceria o estímulo que impulsiona as grandes descobertas e os empreendimentos úteis.

Se Deus a concentra em alguns lugares, é para que dos mesmos ela se expanda, em quantidades suficientes, segundo as necessidades.

Admitindo-se isto, pergunta-se por que Deus a concede a pessoas incapazes de fazê-la frutificar para o bem de todos. Essa é ainda uma prova da sabedoria e da bondade de Deus. Ao dar ao homem o livre arbítrio, quis que ele chegasse, pela sua própria experiência, a discernir o bem e o mal, de maneira que a prática do bem fosse o resultado dos seus esforços, da sua própria vontade. Ele não deve ser fatalmente levado a um nem ao outro, pois então seria um instrumento passivo e irresponsável como os animais.

A fortuna é um meio de prová-lo moralmente; mas como, ao mesmo tempo, é um poderoso meio de ação para o progresso, Deus não quer que permaneça improdutiva, e é por isso que incessantemente a transfere.

Cada qual deve possuí-la, para exercitar-se no seu uso e provar a maneira por que o sabe fazer. Como há a impossibilidade material de que todos a possuam ao mesmo tempo, e como, se todos a possuíssem, ninguém trabalharia, e o melhoramento do globo sofreria com isso: cada qual a possui por sua vez. Dessa maneira, o que hoje não a tem, já a teve no passado ou a terá no futuro, numa outra existência, e o que hoje a possui poderá não tê-la mais amanhã.

Há ricos e pobres porque, Deus sendo justo, cada qual deve trabalhar por sua vez.

A pobreza é para uns a prova da paciência e da resignação; a riqueza é para outros a prova da caridade e da abnegação.

Lamenta-se, com razão, o triste uso que algumas pessoas fazem da sua fortuna, as ignóbeis paixões que a cobiça desperta, e pergunta-se se Deus é justo, ao dar a riqueza a tais pessoas.

É claro que, se o homem só tivesse uma existência, nada justificaria semelhante repartição dos bens terrenos; mas, se em lugar de limitar sua vida ao presente, considerar-se o conjunto das existências, vê-se que tudo se equilibra com justiça. O pobre não tem, portanto, motivo para acusar a Providência Divina, nem para invejar os ricos, e estes não o têm para se vangloriarem do que possuem. Se, por outro lado, estes abusam da fortuna, não será através de decretos, nem de leis suntuárias, que se poderá remediar o mal. As leis podem modificar momentaneamente o exterior, mas não podem modificar o coração: eis porque têm um efeito temporário e provocam sempre uma reação mais desenfreada.

A fonte do mal está no egoísmo e no orgulho. Os abusos de toda espécie cessarão por si mesmos, quando os homens se dirigem pela lei da caridade.
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segunda-feira, 15 de outubro de 2018

73 O Necessário Para Salvar-se: O Bom Samaritano


O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

Cap. 15 - FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO

1 – Mas quando vier o Filho do Homem na sua majestade, e todos os anjos com ele, então se assentará sobre o trono de sua majestade. E serão todas as gentes congregadas diante dele, e separará uns dos outros, como o pastor que aparta dos cabritos as ovelhas; e assim porá as ovelhas à direita, e os cabritos à esquerda; então dirá o rei aos que hão de estar à sua direita; vinde, benditos de meu Pai, possuí o reino que vos está preparado desde o princípio do mundo. Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede e destes-me de beber; precisava de alojamento e recolhestes-me; estava nu e cobristes-me; estava enfermo e visitastes-me; estava no cárcere e viestes ver-me. 

Então lhe responderão os justos, dizendo: Senhor, quando é que nós te vimos faminto e te demos de comer; ou sequioso e te demos de beber? E quando te vimos sem alojamento e te recolhemos; ou nu e te vestimos? E quando te vimos enfermo ou no cárcere e te fomos ver? E respondendo o rei, lhes dirá: Na verdade vos digo, que quantas vezes vós fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim é que o fizestes.

Então dirá também aos que hão de estar à esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno que está aparelhado para o diabo e para os seus anjos; Porque tive fome e não me destes de comer; tive sede e não me destes de beber. Precisava de alojamento e não me recolhestes; estava nu e não me cobristes; estava enfermo no cárcere e não me visitastes.

Então eles também lhe responderão, dizendo: Senhor, quando é que nós te vimos faminto, ou sequioso, ou sem alojamento, ou nu, ou enfermo, ou no cárcere, e deixamos de te assistir? Então lhes responderá ele, dizendo: Na verdade, vos digo que quantas vezes o deixastes de fazer a um destes mais pequeninos, a mim o deixastes de fazer. E irão estes para o suplício eterno, e os justos para a vida eterna. (Mateus, XXV: 31-46).

2 – E eis que se levantou um doutor da lei, e lhe disse, para o tentar: Mestre, que hei de eu fazer para entrar na posse da vida eterna? Disse-lhe então Jesus: Que é o que está escrito na lei? Como lês tu? Ele, respondendo, disse: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a sua alma, de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo. E Jesus lhe disse: Respondeste bem; faze isso, e viverás.

Mas ele, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo? E Jesus, prosseguindo no mesmo discurso, disse: Um homem baixava de Jerusalém a Jericó, e caiu nas mãos dos ladrões, que logo o despojaram do que levava; e depois de o terem maltratado com muitas feridas, se retiraram, deixando-o meio morto.

Aconteceu, pois que passava pelo mesmo caminho um sacerdote; e quando o viu, passou de largo. E assim mesmo um levita, chegando perto daquele lugar, e vendo-o, passou também de largo. Mas um samaritano, que ia a seu caminho, chegou perto dele, e quando o viu, se moveu à compaixão: E chegando-se atou as feridas, lançando nelas azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua cavalgadura, o levou a uma estalagem, e teve cuidado dele. E ao outro dia tirou dois denários, e deu-os ao estalajadeiro, e lhe disse: Tem-me cuidado dele; e quanto gastares demais, eu to satisfarei quando voltar.

Qual destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos ladrões? Respondeu logo o doutor: aquele que usou com o tal de misericórdia. Então lhe disse Jesus: Pois vai, e faze tu o mesmo. (Lucas, X: 25-37).

3 – Toda a moral de Jesus se resume na caridade e na humildade, ou seja, nas duas virtudes contrárias ao egoísmo e ao orgulho. Em todos os seus ensinamentos, mostra essas virtudes como sendo o caminho da felicidade eterna. Bem-aventurados diz ele, os pobres de espírito, quer dizer: os humildes, porque deles é o Reino dos Céus; bem-aventurados os que tem coração puro; bem-aventurados os mansos e pacíficos; bem-aventurados os misericordiosos. Amai o vosso próximo como a vós mesmos; fazei aos outros os que desejaríeis que vos fizessem; amai os vossos inimigos; perdoai as ofensas, se quereis ser perdoados; fazei o bem sem ostentação: julgai-vos a vós mesmos antes de julgar os outros.

Humildade e caridade, eis o que não cessa de recomendar, e de que ele mesmo dá o exemplo.

Orgulho e egoísmo, eis o que não cessa de combater. Mas ele fez mais do que recomendar a caridade, pondo-a claramente, em termos explícitos, como a condição absoluta da felicidade futura.

No quadro que Jesus apresenta, do juízo final, como em muitas outras coisas, temos de separar o que pertence à figura e à alegoria.

A homens como aos que falava, ainda incapazes de compreender as coisas puramente espirituais, devia apresentar imagens materiais, surpreendentes e capazes de impressionar. Para que fossem melhor aceitas, não podia mesmo afastar-se muito das idéias em voga, no tocante à forma, reservando sempre para o futuro a verdadeira interpretação das suas palavras e dos pontos que ainda não podia explicar claramente. Mas, ao lado da parte acessória ou figurada do quadro, há uma idéia dominante: a da felicidade que espera o justo e da infelicidade reservada ao mau.

Nesse julgamento supremo, quais são os considerandos da sentença? Sobre o que baseia a inquirição? Pergunta o juiz se foram atendidas estas ou aquelas formalidades, observadas mais ou menos estas ou aquelas práticas exteriores? Não, ele só pergunta por uma coisa: a prática da caridade. E se pronuncia dizendo: “Passai à direita, vós que socorrestes aos vossos irmãos; passai à esquerda, vós que fostes duros para com eles”.

Indaga pela ortodoxia da fé? Faz distinção entre o que crê de uma maneira, e o que crê de outra? Não, pois Jesus coloca o samaritano, considerado herético, mas que tem amor ao próximo, sobre o ortodoxo a quem falta caridade.

Jesus não faz, portanto, da caridade, uma das condições da salvação, mas a condição única. Se outras devessem ser preenchidas, Ele as mencionaria. Se Ele coloca a caridade na primeira linha entre as virtudes, é porque Ele encerra implicitamente todas as outras: a humildade, a mansidão, a benevolência, a justiça etc; e porque é ela a negação absoluta do orgulho e do egoísmo.
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segunda-feira, 1 de outubro de 2018

72 O Maior Mandamento


O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

Cap. 15 – Fora da Caridade Não Há Salvação

4 – Mas os fariseus, quando viram que Jesus tinha feito calar a boca aos saduceus, se ajuntaram em conselho. E um deles, que era doutor da lei, tentando-o, perguntou-lhe: Mestre, qual é o maior mandamento da lei? Jesus lhes disse: Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento.

Este é o maior e o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Estes dois mandamentos contêm toda a lei e os profetas. (Mateus, XII: 34-40)

5 – Caridade e humildade; esta é a única via de salvação; egoísmo e orgulho, esta é a via da perdição. Esse princípio é formulado em termos precisos nestas palavras: “Amarás a Deus de toda a tua alma, e ao teu próximo como a ti mesmo; estes dois pensamentos contêm toda a lei e os profetas”. E para que não houvesse equívoco na interpretação do amor de Deus e do próximo, temos ainda: “E o segundo, semelhante a este, é: Amarás a teu próximo como a ti mesmo”, significando que não se pode verdadeiramente amar a Deus sem amar ao próximo, nem amar ao próximo sem amar a Deus, porque tudo quanto se faz contra o próximo, é contra Deus que se faz. Não se podendo amar a Deus sem praticar a caridade para com o próximo, todos os deveres do homem se encontram resumidos nesta máxima: Fora da caridade não há salvação.
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sábado, 15 de setembro de 2018

71 Fora Da Caridade Não Há Salvação


O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

Cap. 15 - FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO

PAULO - Paris, 1860

10 – Meus filhos, na máxima: Fora da caridade não há salvação, estão contidos os destinos do homem sobre a Terra e no céu. Sobre a Terra, porque, à sombra desse estandarte, eles viverão em paz; e no céu, porque aqueles que a tiverem praticado encontrarão graça diante do Senhor.

Esta divisa é a flama celeste, coluna luminosa que guia os homens pelo deserto da vida, para conduzi-los à Terra da Promissão. Ela brilha no céu como auréola santa na fronte dos eleitos, e na Terra está gravada no coração daqueles a quem Jesus dirá: “Passai à direita, benditos de meu Pai”.

Podeis reconhecê-los pelo perfume de caridade que espargem ao seu redor. Nada exprime melhor o pensamento de Jesus, nada melhor resume os deveres do homem, do que esta máxima de ordem divina.

O Espiritismo não podia provar melhor a sua origem, do que a oferecendo por regra, porque ela é o reflexo do mais puro Cristianismo. Com essa orientação, o homem jamais se transviará.

Aplicai-vos, portanto, meus amigos, a compreender-lhe o sentido profundo e as conseqüências de sua aplicação, e a procurar por vós mesmos todas as maneiras de aplicá-la.

Submetei todas as vossas ações ao controle da caridade, e a vossa consciência vos responderá: não somente ela evitará que façais o mal, mas ainda vos levará a fazer o bem. Porque não basta uma virtude negativa, é necessária uma virtude ativa. Para fazer o bem, é sempre necessária a ação da vontade, mas, para não fazer o mal, bastam freqüentemente à inércia e a negligência.

Meus amigos; agradeçam a Deus, que vos permitiu gozar a luz do Espiritismo. Não porque somente os que a possuem possam salvar-se, mas porque, ajudando-vos a melhor compreender os ensinamentos do Cristo, ela vos torna melhores cristãos.

Fazei, pois, que vos vendo, se possa dizer que o verdadeiro espírita e o verdadeiro cristão são uma e a mesma coisa, porque todos os que praticam a caridade são discípulos de Jesus, qualquer que seja o culto a que pertençam.
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sábado, 1 de setembro de 2018

70 Fora Da Igreja Não Há Salvação


O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

Cap. 15 - FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO

8 – Enquanto a máxima: Fora da caridade não há salvação apóia-se num princípio universal, abrindo a todos os filhos de Deus o acesso à felicidade suprema, o dogma: Fora da Igreja não há salvação apóia-se, não na fé fundamental em Deus e na imortalidade da alma, fé comum a todas as religiões, mas na fé especial em dogmas particulares.

É, portanto, exclusivista e absoluta. Em vez de unir os filhos de Deus, divide-os. Em vez de incitá-los ao amor fraterno, mantém e acaba por legitimar a animosidade entre os sectários dos diversos cultos, que se consideram reciprocamente malditos na eternidade, sejam embora parentes ou amigos neste mundo; e desconhecendo a grande lei de igualdade perante o túmulo, separa-os também no campo santo.

A máxima: Fora da caridade não há salvação é a conseqüência do princípio de igualdade perante Deus e da liberdade de consciência.

Tendo-se esta máxima por regra, todos os homens são irmãos, e seja qual for a sua maneira de adorar o Criador, eles se dão às mãos e oram uns pelos outros. Com o dogma: Fora da Igreja não há salvação, anatematizam-se e perseguem-se mutuamente, vivendo como inimigos: o pai não ora mais pelo filho, nem o filho pelo pai, nem o amigo pelo amigo, desde que se julgam reciprocamente condenados, sem remissão. Esse dogma é, portanto, essencialmente contrário aos ensinamentos do Cristo e à lei evangélica.

9 – Fora da verdade não há salvação seria equivalente a Fora da Igreja não há salvação, e também exclusivista, porque não existe uma única seita que não pretende ter o privilégio da verdade.

Qual o homem que pode jactar-se de possuí-la integralmente, quando a área do conhecimento aumenta sem cessar, e cada dia que passa as idéias são retificadas? A verdade absoluta só é acessível aos Espíritos da mais elevada categoria, e a humanidade terrena não pode pretendê-la, pois que não lhe é dado saber tudo, e ela só pode aspirar a uma verdade relativa, proporcional ao seu adiantamento.

Se Deus houvesse feito, da posse da verdade absoluta, a condição expressa da felicidade futura, isso equivaleria a um decreto de proscrição geral, enquanto que a caridade, mesmo na sua mais ampla acepção, pode ser praticada por todos.

O Espiritismo, de acordo com o Evangelho, admitindo que a salvação, independente da forma de crença, contanto que a lei de Deus seja observada, não estabelece: Fora do Espiritismo não há salvação, e como não pretende ensinar toda a verdade, também não diz: Fora da verdade não há salvação, máxima que dividiria em vez de unir, e que perpetuaria a animosidade.
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quarta-feira, 15 de agosto de 2018

69 A Caridade Segundo São Paulo


O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

Cap. 15 – Fora da Caridade Não Há Salvação

6 – Se eu falar as línguas dos homens e dos anjos, e não tiver caridade, sou como o metal que soa, ou como o sino que tine. E se eu tiver o dom de profecia, e conhecer todos os mistérios, e quanto se pode saber; e se tiver toda a fé, até a ponto de transportar montanhas, e não tiver caridade, não sou nada. E se eu distribuir todos os meus bens em o sustento dos pobres, e se entregar o meu corpo para ser queimado, se todavia não tiver caridade, nada disto me aproveita. A caridade é paciente, é benigna; a caridade não é invejosa, não obra temerária nem precipitadamente, não se ensoberbece, não é ambiciosa, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a verdade. Tudo tolera, tudo crê, tudo espera, tudo sofre. A caridade nunca jamais há de acabar, ou deixem de ter lugar às profecias, ou cessem as línguas, ou seja abolida a ciência.

Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e a caridade, estas três virtudes; porém a maior delas é a caridade. (Paulo, I Coríntios, XIII: 1-7 e 13).

7 – São Paulo compreendeu tão profundamente esta verdade, que diz: “Se eu falar as línguas dos anjos; se tiver o dom de profecia, e penetrar todos os mistérios; se tiver toda a fé possível, a ponto de transportar montanhas, mas não tiver caridade, nada sou. Entre essas três virtudes: a fé, a esperança e a caridade, a mais excelente é a caridade”. Coloca, assim, sem equívoco, a caridade acima da própria fé. Porque a caridade está ao alcance de todos, do ignorante e do sábio, do rico e do pobre; e porque independe de toda a crença particular.

E faz mais: define a verdadeira caridade; mostra-a, não somente na beneficência, mas no conjunto de todas as qualidades do coração, na bondade e na benevolência para com o próximo.
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quarta-feira, 1 de agosto de 2018

68 Quem É Minha Mãe e Quem São Meus Irmãos?


O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

Cap. 14 – Honra A Teu Pai e A Tua Mãe

5 – E vieram à casa; e concorreu de novo tanta gente, que nem mesmo podiam tomar o alimento. — E quando isto ouviram os seus, saíram para o prender; porque diziam: Ele está furioso.  E chegaram sua mãe e seus irmãos, e ficando da parte de fora, o mandaram chamar. — Estava sentado à roda de um crescido número de gente, e lhe disseram: Olha que tua mãe e teus irmãos te buscam aí fora. — E ele respondeu, dizendo: Quem é minha, e quem são meus irmãos? — E olhando para os que estavam sentados à roda de si: Eis aqui, lhes disse, minha mãe e meus irmãos. Porque o que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, e minha irmã e minha mãe. (Marcos, III: 20-21 e 31-35 – Mateus, XII: 46-50).

6 – Certas palavras parecem estranhas na boca de Jesus, pois contrastam com a sua bondade e a sua inalterável benevolência para com todos. Os incrédulos não deixaram de se aproveitar disso, para dizer que Ele se contradizia a si mesmo. Um fato irrecusável, porém, é que a sua doutrina tem por base essencial, por pedra angular, a lei do amor e da caridade. Ele não podia, pois, destruir de um lado o que construía do outro, de onde é imperioso tirar esta consequência rigorosa: se certas máximas estão em contradição com aquele princípio, é que as palavras que se lhe atribuem foram mal reproduzidas, mal compreendidas, ou não lhe pertencem.

7 – Admira-se, e com razão, de ver Jesus mostrar, nesta circunstância, tenta indiferença para com os seus, e de qualquer sorte renegar sua mãe. Pelo que respeita aos seus irmãos, sabe-se que nunca tiveram simpatia por Ele. Espíritos pouco adiantados, não haviam compreendido a sua missão. Era bizarra, para eles, a conduta de Jesus, e seus ensinamentos não os haviam tocado, pois nenhum deles se fez seu discípulo. Parece mesmo que eles participavam, até certo ponto, das prevenções de seus inimigos. De resto, é certo que o recebiam mais como um estranho do que como um irmão, quando se apresentava em família. E São João diz, positivamente: que não acreditavam nele. (Ver cap. VII)

Quanto à sua mãe, ninguém contestaria sua ternura para com o filho. Mas é necessário convir, também, que ela não parece ter feito uma ideia justa de sua missão, pois jamais se soube que seguisse os seus ensinos, nem que desse testemunho dele, como o fez João Batista. A solicitude maternal era o seu sentimento dominante. No tocante a Jesus, supor que houvesse renegado sua mãe, seria desconhecer-lhe o caráter, pois semelhante pensamento não poderia animar aquele que disse: Honra a teu pai e a tua mãe. É, pois, necessário procurar outro sentido para as suas palavras, quase sempre veladas pela forma alegórica.

Jesus não perdia nenhuma ocasião de ensinar. Serviu-se, portanto, da que lhe oferecia a chegada de sua família, para estabelecer a diferença entre o parentesco corporal e o parentesco espiritual.
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domingo, 15 de julho de 2018

67 PIEDADE FILIAL


O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

Cap. 14 – Honra a Teu Pai e a Tua Mãe

1 – Sabes os mandamentos: não cometas adultérios; não mates; não furtes; não digas falso testemunho; não cometais fraudes; honra a teu pai e a tua mãe (Marcos, X: 19; Lucas, XVIII: 20; Mateus, XIX: 19).
2 – Honra a teu pai e a tua mãe, para teres uma dilatada vida sobre a Terra que o Senhor teu Deus te há de dar. (Decálogo, XX: 12)

3 – O mandamento: “Honra a teu pai e a tua mãe”, é uma conseqüência da lei geral da caridade e do amor ao próximo, porque não se pode amar ao próximo sem amar aos pais; mas o imperativo honra implica um dever a mais para com eles: o da piedade filial.

Deus quis demonstrar, assim, que ao amor é necessário juntar o respeito, a estima, a obediência e a condescendência, o que implica a obrigação de cumprir para com eles, de maneira mais rigorosa, tudo o que a caridade determina em relação ao próximo. Esse dever se estende naturalmente às pessoas que se encontram no lugar dos pais, e cujo mérito é tanto maior, quanto o devotamento é para elas menos obrigatório. Deus pune sempre de maneira rigorosa toda violação desse mandamento.

Honrar ao pai e à mãe não é somente respeitá-los, mas também assisti-los nas suas necessidades; proporcionando-lhes o repouso na velhice; cercá-los de solicitude, como eles fizeram por nós na infância.

É, sobretudo para com os pais sem recursos que se demonstra a verdadeira piedade filial. Satisfariam a esse mandamento os que julgam fazer muito, aos lhes darem o estritamente necessário para que não morram de fome, enquanto eles mesmos de nada se privam?

Relegando-os aos piores cômodos da casa, apenas para não deixá-los na rua, e reservando para si mesmos os melhores aposentos, os mais confortáveis? E ainda bem quando tudo isso não é feito de má vontade, sendo os pais obrigados a pagar o que lhes resta da vida com a carga dos serviços domésticos! É então justo que pais velhos e fracos tenham de servir a filhos jovens e fortes? A mãe lhe teria cobrado o leite, quando ainda estavam no berço? Teria, por acaso, contado as suas noites de vigília, quando eles ficavam doentes, os seus passos para proporcionar-lhes o cuidado necessário? Não, não é só o estritamente necessário que os filhos devem aos pais pobres, mas também, tanto quanto puderem, as pequenas alegrias do supérfluo, as amabilidades, os cuidados carinhosos, que são apenas os juros do que receberam, o pagamento de uma dívida sagrada.

Essa, somente, é a piedade filial aceita por Deus.

Infeliz, portanto, aquele que se esquece da sua dívida para os que o sustentaram na infância, os que, com a vida material, lhe deram também a vida moral, que freqüentemente se impuseram duras privações para lhe assegurar o bem-estar! Ai do ingrato, porque ele será punido pela ingratidão e o abandono; será ferido nas suas mais caras afeições, às vezes desde a vida presente, mas de maneira certa noutra existência, em que terás de sofrer o que fez os outros sofrerem!

Certos pais, é verdade, descuidam dos seus deveres, e não são para os filhos o que deviam ser. Mas é a Deus que compete puni-los, e não aos filhos. Não cabe a estes censurá-los, pois que talvez eles mesmos fizeram por merecê-los assim. Se a caridade estabelece como lei que devemos pagar o mal com o bem, ser indulgentes para as imperfeições alheias, não maldizer do próximo, esquecer e perdoar as ofensas, e amar até mesmo os inimigos, quanto essa obrigação se faz ainda maior em relação aos pais! Os filhos, devem por isso mesmo, tomar como regra de conduta para com os pais todos os preceitos de Jesus referentes ao próximo, e lembrar que todo procedimento condenável em relação aos estranhos, mais condenável se torna para com os pais. Devem lembrar que aquilo que no primeiro caso seria apenas uma falta, pode tornar-se um crime no segundo, porque, neste, à falta de caridade se junta à ingratidão.

4 – Deus disse: “Honrarás a teu pai e a tua mãe, para teres uma dilatada vida sobre a Terra que o Senhor teu Deus te há de dar”. Mas por que promete como recompensa a vida terrena e não a celeste? A explicação se encontra nestas palavras: “Que Deus vos dará”, suprimidas na forma moderna do decálogo, o que lhe desfigura o sentido. Para compreendermos essas palavras, temos de nos reportar à situação e às idéias dos hebreus, na época em que elas foram pronunciadas. Eles ainda não compreendiam a vida futura. Sua visão não se estendia além dos limites da vida física. Por isso, deviam ser mais fortemente tocados pelas coisas que viam, do que pelas invisíveis. Eis o motivo porque Deus lhes fala numa linguagem ao seu alcance, e, como as crianças, lhes apresentam como perspectiva aquilo que poderia satisfazê-los. Eles estavam então no deserto. A Terra que Deus lhes dará é a Terra da Promissão, alvo de suas aspirações. Nada mais desejavam e Deus lhes diz que viverão nela por longo tempo, o que significa que a possuirão por longo tempo, se observarem os seus mandamentos.

Mas, ao advento de Jesus, suas idéias estavam mais desenvolvidas. Tendo chegado o momento de lhes ser dado um alimento menos grosseiro, Jesus os inicia na vida espiritual, ao dizer: “Meu Reino não é deste mundo; é nele, e não sobre a Terra, que recebereis a recompensa das vossas boas obras”. Com estas palavras, a Terra da Promissão material se transforma numa pátria celeste. Da mesma maneira, quando lhes recorda a necessidade de observação do mandamento: “Honra a teu pai e a tua mãe”, já não é mais a Terra que lhes promete, mas o céu. (Caps. II e III).

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domingo, 1 de julho de 2018

66 Parentesco Corporal e Espiritual


O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

Cap. 14 – Honra a Teu Pai e A Tua Mãe

8 – Os laços de sangue não estabelecem necessariamente os laços espirituais. O corpo procede do corpo, mas o Espírito não procede do Espírito, porque este existia antes da formação do corpo. O pai não gera o Espírito do filho: fornece-lhe apenas o envoltório corporal. Mas deve ajudar seu desenvolvimento intelectual e moral, para o fazer progredir.

Os Espíritos que se encarnam numa mesma família, sobretudo como parentes próximos, são os mais freqüentemente Espíritos simpáticos, ligados por relações anteriores, que se traduzem pela afeição durante a vida terrena.

Mas pode ainda acontecer que esses Espíritos sejam completamente estranhos uns para os outros, separados por antipatias igualmente anteriores, que se traduzem também por seu antagonismo na Terra, a fim de lhes servir de prova.

Os verdadeiros laços de família não são, portanto, os da consangüinidade, mas os da simpatia e da comunhão de pensamentos, que unem os Espíritos, antes, durante e após a encarnação. Donde se segue que dois seres nascidos de pais diferentes podem ser mais irmãos pelo Espírito, do que se o fossem pelo sangue. Podem, pois, atrair-se, procurar-se, tornarem-se amigos, enquanto dois irmãos consangüíneos podem repelir-se, como vemos todos os dias.

Problema moral, que só o Espiritismo podia resolver, pela pluralidade das existências. (Ver cap. IV, nº 13)

Há, portanto, duas espécies de famílias: as famílias por laços espirituais e as famílias por laços corporais. As primeiras, duradouras, fortificam-se pela purificação e se perpetuam no mundo dos Espíritos, através das diversas migrações da alma. As segundas, frágeis como a própria matéria, extinguem-se com o tempo, e quase sempre se dissolvem moralmente desde a vida atual. Foi o que Jesus quis fazer compreender, dizendo aos discípulos: “Eis minha mãe e meus irmãos”, ou seja, a minha família pelos laços espirituais, pois “quem quer que faça a vontade de meu Pai, que está nos céus, é meu irmão, minha irmã e minha mãe”.

A hostilidade de seus irmãos está claramente expressa no relato de São Marcos, desde que, segundo este, eles se propunham a apoderar-se dele, sob o pretexto de que perdera o juízo. Avisado de que haviam chegado, e conhecendo o sentimento deles a seu respeito, era natural que dissesse, referindo-se aos discípulos, em sentido espiritual: “Eis os meus verdadeiros irmãos”. Sua mãe os acompanhava, e Jesus generalizou o ensino, o que absolutamente não implica que ele pretendesse que sua mãe segundo o sangue nada lhe fosse segundo o Espírito, só merecendo a sua indiferença. Sua conduta, em outras circunstâncias, provou suficientemente o contrário.
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sexta-feira, 15 de junho de 2018

65 A Ingratidão dos Filhos e os Laços de Família


O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

Cap. 14 – Honra a Teu Pai e A Tua Mãe

SANTO AGOSTINHO - Paris, 1862

9 – A ingratidão é um dos frutos mais imediatos do egoísmo e revolta sempre os corações virtuosos. Mas a dos filhos para com os pais tem um sentido ainda mais odioso. É desse ponto de vista que a vamos encarar mais especialmente, para analisar-lhe as causas e os efeitos.

Nisto, como em tudo, o Espiritismo vem lançar luz sobre um dos problemas do coração humano.

Quando o Espírito deixa a Terra, leva consigo as paixões ou as virtudes inerentes à sua natureza, e vai no espaço aperfeiçoar-se ou estacionar, até que deseje esclarecer-se. Alguns, portanto, levam consigo ódios violentos e desejos de vingança. A alguns deles, porém, mais adiantados, é permitido entrever algo da verdade: reconhecem os funestos efeitos de suas paixões, e tomam então boas resoluções; compreendem que, para se dirigirem a Deus, só existe uma senha – caridade.

Mas não há caridade sem esquecimento das ofensas e das injúrias, não há caridade com ódio no coração e sem perdão.

É então que, por um esforço inaudito, voltam o seu olhar para os que detestaram na Terra. À vista deles, porém, sua animosidade desperta. Revoltam-se à idéia de perdoar, e ainda mais a de renunciarem a si mesmos, mas sobretudo a de amar aqueles que lhes destruíram talvez a fortuna, a honra, a família. Não obstante, o coração desses infortunados está abalado. Eles hesitam, vacilam, agitados por sentimentos contrários.

Se a boa resolução triunfa, eles oram a Deus, imploram aos Bons Espíritos que lhes dêem forças no momento mais decisivo da prova.
Enfim, depois de alguns anos de meditação e de preces, o Espírito se aproveita de um corpo que se prepara, na família daquele que ele detestou, e pede, aos Espíritos encarregados de transmitir as ordens supremas, permissão para ir cumprir sobre a Terra os destinos desse corpo que vem de se formar.

Qual será, então, a sua conduta nessa família? Ela dependerá da maior ou menor persistência das suas boas resoluções. O contacto incessante dos seres que ele odiou é uma prova terrível, da qual às vezes sucumbe, se a sua vontade não for bastante forte. Assim, segundo a boa ou má resolução que prevalecer, ele será amigo ou inimigo daqueles em cujo meio foi chamado a viver.

É assim que se explicam esses ódios, essas repulsas instintivas, que se notam em certas crianças, e que nenhum fato exterior parece justificar. Nada, com efeito, nessa existência, poderia provocar essa antipatia. Para encontrar-lhe a causa, é necessário voltar os olhos ao passado.
Oh!, espíritas! Compreendei neste momento o grande papel da Humanidade! Compreendei que, quando gerais um corpo, a alma que se encarna vem do espaço para progredir. Tomai conhecimento dos vossos deveres, e ponde todo o vosso amor em aproximar essa alma de Deus: é essa a missão que vos está confiada e da qual recebereis a recompensa, se a cumprirdes fielmente.

Vossos cuidados, a educação que lhe derdes, auxiliarão o seu aperfeiçoamento e a sua felicidade futura. Lembrai-vos de que a cada pai e a cada mãe, Deus perguntará: “Que fizestes da criança confiada à vossa guarda?” Se permaneceu atrasada por vossa culpa, vosso castigo será o de vê-la entre os Espíritos sofredores, quando dependia de vós que fosse feliz. Então vós mesmos, carregados de remorsos, pedireis para reparar a vossa falta: solicitareis uma nova encarnação, para vós e para ela, na qual a cercareis de mais atentos cuidados, e ela, cheia de reconhecimento, vos envolverá no seu amor.

Não recuseis, portanto, o filho que no berço repele a mãe, nem aquele que vos paga com a ingratidão: não foi o acaso que o fez assim e que vo-lo enviou. Uma intuição imperfeita do passado se revela, e dela podeis deduzir que um ou outro já odiou muito ou foi muito ofendido, que um ou outro veio para perdoar ou expiar.

Mães! Abraçai, pois, a criança que vos causa aborrecimentos, e dizei para vós mesmas: “Uma de nós duas foi culpada”. Merecei as divinas alegrias que Deus concedeu à maternidade, ensinando a essa criança que ela está na Terra para se aperfeiçoar, amar e abençoar.

Mas, ah! Muitas dentre vós, em vez de expulsar por meio da educação os maus princípios inatos, provenientes das existências anteriores, entretém e desenvolvem esses princípios, por descuido ou por uma culposa fraqueza. E, mais tarde, o vosso coração ulcerado pela ingratidão dos filhos, será para vós, desde esta vida, o começo da vossa expiação.

A tarefa não é tão difícil como podereis pensar. Não exige o saber do mundo: o ignorante e o sábio podem cumpri-la, e o Espiritismo vem facilitá-la, ao revelar a causa das imperfeições do coração humano.

Desde o berço, a criança manifesta os instintos bons ou maus que traz de sua existência anterior. É necessário aplicar-se em estudá-los. Todos os males têm sua origem no egoísmo e no orgulho. Espreitai, pois, os menores sinais que revelam os germens desses vícios e dedicai-vos a combatê-los, sem esperar que eles lancem raízes profundas. Fazei como o bom jardineiro, que arranca os brotos daninhos à medida que os vê aparecerem na árvore.

Se deixardes que o egoísmo e o orgulho se desenvolvam, não vos espanteis de ser pagos mais tarde pela ingratidão. Quando os pais tudo fizeram para o adiantamento moral dos filhos, se não conseguem êxito, não tem do que lamentar e sua consciência pode estar tranqüila. Quanto à amargura muito natural que experimentam, pelo insucesso de seus esforços, Deus reserva-lhes uma grande, imensa consolação, pela certeza de que é apenas um atraso momentâneo, e que lhe será dado acabar em outra existência a obra então começada, e que um dia o filho ingrato os recompensará com o seu amor. (Ver cap. XIII, nº 19)

Deus não faz as provas superiores às forças daquele que as pede; só permite as que podem ser cumpridas; se isto não se verifica, não é por falta de possibilidades, mas de vontade. Pois quantos existem, que em lugar de resistir aos maus arrastamentos, neles se comprazem: é para eles que estão reservados o choro e o ranger de dentes, em suas existências posteriores. Admirai, entretanto, a bondade de Deus, que nunca fecha a porta ao arrependimento.

Chega um dia em que o culpado está cansado de sofrer, o seu orgulho foi por fim dominado, e é então que Deus abre os braços paternais para o filho pródigo, que se lança aos seus pés. As grandes provas, — escutai bem, — são quase sempre o indício de um fim de sofrimento e de um aperfeiçoamento do Espírito, desde que sejam aceitas por amor a Deus. É um momento supremo, e é nele sobretudo que importa não falir pela murmuração, se não se quiser perder o fruto da prova e ter de recomeçar.

Em vez de vos queixardes, agradecei a Deus, que vos oferece a ocasião de vencer para vos dar o prêmio da vitória. Então quando, saído do turbilhão do mundo terreno, entrardes no mundo dos Espíritos, sereis ali aclamado, como o soldado que saiu vitorioso do centro da refrega.

De todas as provas, as mais penosas são as que afetam o coração. Aquele que suporta com coragem a miséria das privações materiais, sucumbe ao peso das amarguras domésticas, esmagadas pela ingratidão dos seus. Oh! É essa uma pungente angústia! Mas o que pode, nessas circunstâncias, reerguer a coragem moral, senão o conhecimento das causas do mal, com a certeza de que, se há longas dilacerações, não há desesperos eternos, porque Deus não pode querer que a sua criatura sofra para sempre! O que há de mais consolador, de mais encorajador, do que esse pensamento de que depende de si mesmo, de seus próprios esforços abreviar o sofrimento, destruindo em si as causas do mal? Mas, para isso, é necessário não reter o olhar na Terra e não ver apenas uma existência; é necessário elevar-se, pairar no infinito do passado e do futuro. Então, a grande justiça de Deus se revela aos vossos olhos, e esperais com paciência, porque explicou a vós mesmos o que vos parecia monstruosidade da Terra. Os ferimentos que recebestes vos parecem simples arranhaduras. Nesse golpe de vista lançado sobre o conjunto, os laços de família aparecem no seu verdadeiro sentido: não mais os laços frágeis da matéria que ligam os seus membros, mas os laços duráveis do Espírito, que se perpetuam, e se consolidam, ao se depurarem, em vez de se quebrarem com a reencarnação.

Os Espíritos cuja similitude de gostos, identidade do progresso moral e a afeição, levam a reunir-se, formam famílias. Esses mesmos Espíritos, nas suas migrações terrenas, buscam-se para agrupar-se, como faziam no espaço, dando origem às famílias unidas e homogêneas. E se, nas suas peregrinações, ficam momentaneamente separados, mais tarde se reencontram, felizes por seus novos progressos. Mas como não devem trabalhar somente para si mesmos, Deus permite que Espíritos menos adiantados venham encarnar-se entre eles, a fim de haurirem conselhos e bons exemplos, no interesse do seu próprio progresso. Eles causam, por vezes, perturbações no meio, mas é lá que está a prova, lá que se encontra a tarefa. Recebei-os, pois, como irmãos; ajudai-os, e, mais tarde, no mundo dos Espíritos, a família se felicitará por haver salvo do naufrágio os que, por sua vez, poderão salvar outros.
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sexta-feira, 1 de junho de 2018

64 Os Infortúnios Ocultos


O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

Cap. 13 – Que a Mão Esquerda Não Saiba o Que Faz a Direita

4 – Nas grades calamidades, a caridade se agita, e veem-se generosos impulsos para reparar os desastres. Mas, ao lado desses desastres gerais, há milhares de desastres particulares, que passam desapercebidos, de pessoas que jazem num miserável catre, sem se queixarem. São esses os infortúnios discretos e ocultos, que a verdadeira generosidade sabe descobrir, sem esperar que venham pedir assistência.

Quem é aquela senhora de ar distinto, de trajes simples, mas bem cuidados, seguida de uma jovem que também se veste modestamente? Entra numa casa de aspecto miserável, onde sem dúvida é conhecida, pois à porta é saudada com respeito. Para onde vai? Sobe até a água furtada: lá vive uma mãe de família, rodeada pelos filhos pequenos. À sua chegada, a alegria brilha naqueles rostos emagrecidos. É que ela vem acalmar todas as suas dores. Traz o necessário, acompanhado de suaves e consoladoras palavras, que fazem aceitar a ajuda sem constrangimentos, pois esses infortunados não são profissionais de mendicância. O pai se encontra no hospital, e durante esse tempo a mãe não pode suprir as necessidades.

Graças a ela, essas pobres crianças não sofrerão nem frio nem fome; irão à escola suficientemente agasalhados e no seio da mãe não faltará o leite para os menorzinhos. Se uma entre elas adoece, não lhe repugnará prestar-lhe os cuidados materiais. Dali seguirá para o hospital, levará ao pai algum consolo e tranquilizá-lo quanto à sorte da família. Na esquina, uma carruagem a espera, verdadeiro depósito de tudo o que vai levar aos protegidos, que visita sucessivamente. Não lhes pergunta pela crença nem pelas opiniões, porque, para ela, todos os homens são irmãos e filhos de Deus. Finda a visita, ela diz a si mesma: Comecei bem o meu dia. Qual é o seu nome? Onde mora? Ninguém o sabe. Para os infelizes, tem um nome que não revela a ninguém, mas é o anjo da consolação. E, à noite, um concerto de bênçãos se eleva por ela ao Criador: católicos, judeus, protestantes, todos a bendizem.

Por que se veste tão simplesmente? Para não ferir a miséria com o seu luxo. Por que se faz acompanhar da filha adolescente? Para lhe ensinar como se deve praticar a beneficência. A filha também quer fazer a caridade, mas a mãe lhe diz: “Que podes dar, minha filha, se nada tens de teu? Se te entrego alguma coisa para dares aos outros, que mérito terás? Serei eu, na verdade, quem farei a caridade, e tu quem terás o mérito? Isso não é justo. Quando formos visitar os doentes, ajudar-me as a cuidar deles, pois dar-lhes cuidados é dar alguma coisa. Isso não te parece suficiente? Nada mais simples: aprende a fazer costuras úteis, e assim confeccionarás roupinhas para essas crianças, podendo dar-lhes alguma coisa de ti mesma”. É assim que esta mãe verdadeiramente cristã vai formando sua filha na prática das virtudes ensinadas pelo Cristo. É espírita? Que importa?

Para o meio em que vive, é a mulher do mundo, pois sua posição o exige; mas ignoram o que ela faz, mesmo porque não lhe interessa outra aprovação que a de Deus e da sua própria consciência. Um dia, porém, uma circunstância imprevista leva à sua casa uma de suas protegidas, para lhe oferecer trabalhos manuais. “Psiu! — diz-lhe ela. Não contes a ninguém!” Assim falava Jesus.
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terça-feira, 15 de maio de 2018

63 O Óbolo da Viúva


O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

Cap. 13 – Que a Mão Esquerda Não Saiba o Que Faz a Direita

5 – E estando Jesus assentado defronte donde era o gazofilácio, observava ele de que modo deitava o povo ali o dinheiro; e muitos, que eram ricos, deitavam com mão larga. E tendo chegado uma pobre viúva, lançou duas pequenas moedas, que importavam um real. E convocando seus discípulos, lhes disse: Na verdade vos digo, que mais deitou esta pobre viúva do que todos os outros que deitaram no gazofilácio. Porque todos os outros deitaram do que tinham na sua abundância; porém esta deitou da sua mesma indulgência tudo o que tinha, e tudo o que lhe restava para seu sustento. (Marcos, XII: 41-44 – Lucas, XXI: 1-4).

6 – Muita gente lamenta não poder fazer todo o bem que desejaria, por falta de recursos, e se querem a fortuna, dizem, é para bem aplicá-la. A intenção é louvável, sem dúvida, e pode ser muito sincera de parte de alguns; mas o seria de parte de todos, assim completamente desinteressados? Não haverá os que, inteiramente empenhados em beneficiar os outros, se sentirão bem de começar por si mesmos, concedendo-se mais algumas satisfações, um pouco mais do supérfluo que ora não têm, para dar aos pobres apenas, o resto? Este pensamento oculto, talvez dissimulado, mas que encontrariam no fundo do coração, se o sondassem, anula o mérito da intenção, pois a verdadeira caridade faz antes pensar nos outros que em si mesmo.

O sublime da caridade, nesse caso, seria procurar cada qual no seu próprio trabalho, pelo emprego de suas forças, de sua inteligência, de sua capacidade, os recursos que lhe faltam para realizar suas intenções generosas. Nisso estaria o sacrifício mais agradável ao Senhor.

Mas, infelizmente, a maioria sonha com meios fáceis de se enriquecer, de um golpe e sem sacrifícios, correndo atrás de quimeras, como a descoberta de tesouros, uma oportunidade favorável, o recebimento de heranças inesperadas, e assim por diante. Que dizer dos que esperam encontrar, para os secundar nessas buscas, auxiliares entre os Espíritos? É evidente que eles nem conhecem nem compreendem o sagrado objetivo do Espírito, e menos ainda a missão dos Espíritos, aos quais Deus permite comunicarem-se com os homens. Mas justamente por isso, são punidos pelas decepções. (Livro dos Médiuns, nº 294 e 295).

Aqueles cuja intenção é desprovida de qualquer interesse pessoal, deve consolar-se de sua impotência para fazer o bem que desejariam, lembrando que o óbolo do pobre, que o tira da sua própria privação, pesa mais na balança de Deus que o ouro do rico, que dá sem privar-se de nada. Seria grande a satisfação, sem dúvida, de poder socorrer largamente a indigência; mas, se isso é impossível, é necessário submeter-se a fazer o que se pode. Aliás, não é somente com o ouro que se podem enxugar as lágrimas, e não devemos ficar inativos por não o possuirmos. Aquele que deseja sinceramente tornar-se útil para os seus irmãos, encontra mil ocasiões de fazê-lo.

Que as procure e as encontrará. Se não for de uma maneira, será de outra, pois não há uma só pessoa, no livre gozo de suas faculdades, que não possa prestar algum serviço, dar uma consolação, amenizar um sofrimento físico ou moral, tomar uma providência útil. Na falta de dinheiro, não dispõe cada qual do seu esforço, do seu tempo, do seu repouso, para oferecer um pouco aos outros? Isso também é a esmola do pobre, o óbolo da viúva.

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terça-feira, 1 de maio de 2018

62 Os Órfãos


O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

Cap. 13 – Que a Mão Esquerda Não Saiba o Que Faz a Direita

Um Espírito Protetor - Paris, 1860

18 – Meus irmãos, amai os órfãos! Se soubésseis quanto é triste estar só e abandonado, sobretudo quando criança! Deus permite que existam órfãos, para nos animar a lhes servirmos de pais. Que divina caridade, a de ajudar uma pobre criaturinha abandonada, livrá-la da fome e do frio, orientar sua alma, para que ela não se perca no vicio!

Quem estende a mão a uma criança abandonada é agradável a Deus, porque demonstra compreender e praticar a sua lei. Lembrai-vos também de que, freqüentemente, a criança que agora socorreis vos foi cara numa encarnação anterior, e se o pudésseis recordar, o que fazeis já não seria caridade, mas o cumprimento de um dever.

Assim, portanto, meus amigos, todo sofredor é vosso irmão e tem direito à vossa caridade. Não a essa caridade que magoa o coração, não a essa esmola que queima a mão que a recebe, pois os vossos óbolos são freqüentemente muito amargos! Quantas vezes eles seriam recusados, se a doença e a privação não os esperassem no casebre! Daí com ternura, juntando ao benefício material o mais precioso de todos: uma boa palavra, uma carícia, um sorriso amigo.
Evitai esse ar protetoral, que revolve a lâmina no coração que sangra, e pensai que, ao fazer o bem, trabalhais para vós e para os vossos.

Guia Protetor - Sens, 1862

19 – Que pensar das pessoas que, sofrendo ingratidão por benefícios prestados, não querem mais fazer o bem, com medo de encontrar ingratos?
Essas pessoas têm mais egoísmo do que caridade, porque fazer o bem somente para receber provas de reconhecimento, é deixar de lado o desinteresse, e o único bem agradável a Deus é o desinteressado. São ainda orgulhosas, porque se comprazem na humildade do beneficiado, que deve rojar-se aos seus pés para agradecer-lhes. Aquele que busca na Terra a recompensa do bem que faz, não a receberá no céu, mas Deus a reservará para o que assim não procede.

É necessário ajudar sempre aos fracos, mesmo sabendo-se de antemão que os beneficiados não agradecerão. Sabeis que, se aquele a quem ajudais esquecer o benefício, Deus o considerará mais do que se fosseis recompensados pela sua gratidão. Deus permite que às vezes sejais pagos com a ingratidão, para provar a vossa perseverança em fazer o bem.

Como sabeis, aliás, se esse benefício, momentaneamente esquecido, não produzirá mais tarde os seus frutos? Ficai certos, pelo contrário de que é uma semente que germinará com o tempo. Infelizmente, não vedes nunca além do presente, trabalhais para vós, e não tendo em vista os semelhantes.

A benemerência acaba por abrandar os corações mais endurecidos; pode ficar esquecida aqui na Terra, mas quando o Espírito se livrar do corpo, ele se lembrará, e essa lembrança será o seu próprio castigo.

Então, ele lamentará a sua ingratidão, desejará reparar a sua falta, pagar a sua dívida noutra existência, aceitando mesmo, freqüentemente, uma vida de devotamento ao seu benfeitor. É assim que, sem o suspeitares, tereis contribuído para o seu progresso moral, e reconhecereis então toda a verdade desta máxima: um benefício jamais se perde. Mas tereis também trabalhado para vós, pois tereis o mérito de haver feito o bem com desinteresse, sem vos deixar abater pelas decepções.

Ah!, meus amigos, se conhecêsseis todos os laços que, na vida presente, vos ligam às existências anteriores! Se pudésseis abarcar a multiplicidade das relações que aproximam os seres uns dos outros, para o seu mútuo progresso, admiraríeis muito melhor a sabedoria e a bondade do Criador, que vos permite reviver para chegardes a ele!

SÂO LUIS - Paris, 1860

20 – A beneficência é bem compreendida, quando se limita ao círculo de pessoas da mesma opinião, da mesma crença ou do mesmo partido?

Não, pois é sobretudo o espírito de seita e de partido que deve ser abolido, porque todos os homens são irmãos. O verdadeiro cristão vê irmãos em todos os seus semelhantes, e para socorrer o necessitado, não procura saber a sua crença, a sua opinião, seja qual for. Seguiria ele o preceito de Jesus Cristo, que manda amar até mesmo os inimigos, se repelisse um infeliz, por ter crença diferente da sua? Que o socorra, pois, sem lhe interpretar a consciência, mesmo porque, se for um inimigo da religião, será esse o meio de fazer que ele a ame. Repelindo-o, só faria que a odiasse.
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domingo, 15 de abril de 2018

61 A Piedade


O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

Cap. 13 – Que a Mão Esquerda Não Saiba o Que Faz a Direita

Michel - Bordeaux, 1862

17 – A piedade é a virtude que mais vos aproxima dos anjos. É a irmã de caridade que vos conduz para Deus. Ah!, deixai vosso coração enternecer-se, diante das misérias e dos sofrimentos de vossos semelhantes. Vossas lágrimas são um bálsamo que derramais nas suas feridas. E quando, tocados por uma doce simpatia, conseguis restituir-lhes a esperança e a resignação, que ventura experimentais! É verdade que essa ventura tem um certo amargor, porque surge ao lado da desgraça; mas se não apresenta o forte sabor dos gozos mundanos, também não traz as pungentes decepções do vazio deixado por estes; pelo contrário, tem uma penetrante suavidade, que encanta a alma.

A piedade, quando profundamente sentida, é amor: o amor é devotamento, é o olvido de si mesmo; e esse olvido, essa abnegação pelos infelizes, é a virtude por excelência, aquela mesma que o divino Messias praticou em toda a sua vida, e ensinou na sua doutrina tão santa e sublime. Quando essa doutrina for devolvida à sua pureza primitiva, quando for admitida por todos os povos, ela tornará a Terra feliz, fazendo reinar na sua face a concórdia, a paz e o amor.

O sentimento mais apropriado a vos fazer progredir, domando vosso egoísmo e vosso orgulho, aquele que dispõe vossa alma à humildade, à beneficência e ao amor do próximo, é a piedade, essa piedade que vos comove até as fibras mais íntimas, diante do sofrimento de vossos irmãos, que vos leva a estender-lhes a mão caridosa e vos arranca lágrimas de simpatia. Jamais sufoqueis, portanto, em vossos corações, essa emoção celeste, nem façais como esses endurecidos egoístas que fogem dos aflitos, para que a visão de suas misérias não lhes perturbe por um instante a feliz existência.

Temei ficar indiferente, quando puderdes ser úteis! A tranquilidade conseguida ao preço de uma indiferença culposa é a tranquilidade do Mar Morto, que oculta na profundeza de suas águas a lama fétida e a corrupção.

Quanto a piedade está longe, entretanto, de produzir a perturbação e o aborrecimento de que se arreceia o egoísta! Não há dúvida que a alma experimenta, ao contato da desgraça alheia, confrangendo-se, um estremecimento natural e profundo, que faz vibrar todo o vosso ser e vos afeta penosamente.

Mas a compensação é grande, quando conseguis devolver a coragem e a esperança a um irmão infeliz, que se comove ao aperto da mão amiga, e cujo olhar, ao mesmo tempo umedecido de emoção e recolhimento, se volta com doçura para vós, antes de se elevar ao céu, agradecendo por lhe haver enviado um consolador, um amparo.

A piedade é melancólica, mas celeste precursora da caridade, esta primeira entre as virtudes, de que ela é irmã, e cujos benefícios prepara e enobrece.
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domingo, 1 de abril de 2018

60 A Beneficência


O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

Cap. 13 – Que a Mão Esquerda Não Saiba o Que Faz a Direita

ADOLFO - Bispo de Alger, Bordeaux, 1861

11 – A beneficência, meus amigos, vos dará neste mundo os gozos mais puros e mais doces, as alegrias do coração, que não são perturbadas nem pelos remorsos, nem pela indiferença. Oh!, pudésseis compreender tudo o que encerra de grande e de agradável a generosidade das belas almas, esse sentimento que faz que se olhe aos outros com o mesmo olhar voltado para si mesmo, e que se desvista com alegria para vestir a um irmão! Pudésseis, meus amigos, ter apenas a doce preocupação de fazer aos outros felizes! Quais as festas mundanas que se pode comparar a essas festas jubilosas, quando, representantes da Divindade, levais a alegria a essas pobres famílias, que da vida só conhecem as vicissitudes e as amarguras; quando vedes esses rostos macilentos brilharem subitamente de esperança, desprovidos de pão, esses infelizes e seus filhos, ignorando que viver é sofrer, gritavam, choravam e repetiam estas palavras, que, como finos punhais, penetravam o coração materno: “Tenho fome!” Oh!, compreendei quanto são deliciosas as impressões daquele que vê renascer a alegria onde, momentos antes, só havia desespero! Compreendei quais são as vossas obrigações para com os vossos irmãos! Ide, ide ao encontro do infortúnio, ao socorro das misérias ocultas, sobretudo, que são as mais dolorosas. Ide, meus bem-amados, e lembrai-vos destas palavras do Salvador: “Quando vestirdes a um destes pequeninos, pensai que é a mim que o fazeis!”

Caridade! Palavra sublime, que resume todas as virtudes, és tu que deves conduzir os povos à felicidade. Ao praticar-te, eles estarão semeando infinitas alegrias para o próprio futuro, e durante o seu exílio na Terra, serás para eles a consolação, o antegozo das alegrias que mais tarde desfrutarão, quando todos reunidos se abraçarem, no seio do Deus de amor. Foste tu, virtude divina, que me proporcionaste os únicos momentos de felicidade que gozei na Terra. Possam os meus irmãos encarnados crer na voz do amigo que lhes fala e lhes diz: É na caridade que deveis procurar a paz do coração, o contentamento da alma, o remédio para as aflições da vida. Oh!, quando estiverdes a ponto de acusar a Deus, lançai um olhar para baixo, e vereis quantas misérias a aliviar, quantas pobres crianças sem família; quantos velhos sem uma só mão amiga para os socorrer e fechar-lhes os olhos na hora da morte! Quanto bem a fazer! Oh!, não reclameis, antes agradecei a Deus, e prodigalizai a mancheias a vossa simpatia, o vosso amor, o vosso dinheiro, a todos os que, deserdados dos bens deste mundo, definham no sofrimento e na solidão. Colhereis neste mundo alegrias bem suaves, e mais tarde… somente Deus o sabe!

SÃO VICENTE DE PAULO - Paris, 1858

12 – Sede bons e caridosos: eis a chave dos céus, que tendes nas mãos. Toda a felicidade eterna se encerra nesta máxima: “Amai-vos uns aos outros”. A alma não pode elevar-se às regiões espirituais senão pelo devotamento ao próximo; não encontra felicidade e consolação senão nos impulsos da caridade. Sede bons, amparai os vossos irmãos, extirpai a horrível chaga do egoísmo. Cumprido esse dever, o caminho da felicidade eterna deve abrir-se para vós. Aliás, quem dentre vós não sentiu o coração pulsar, crescer sua alegria interior, ao relato de um belo sacrifício, de uma obra de pura caridade? Se buscásseis apenas o deleite de uma boa ação, estaríeis sempre no caminho do progresso espiritual. Exemplos não vos faltam; o que falta é a boa vontade, sempre rara. Vede a multidão de homens de bem, de que a vossa história evoca piedosas lembranças.

O Cristo não vos disse tudo o que se refere a essas virtudes de caridade e amor? Por que deixastes de lado os seus divinos ensinamentos? Por que fechar os ouvidos às suas divinas palavras, o coração às suas doces máximas? Eu desejaria que se votasse mais interesse, mais fé às leituras evangélicas; mas abandona-se esse livro, considerado como texto quimérico, mensagem cifrada; deixa-se no esquecimento esse código admirável. Vossos males provêm do abandono voluntário desse resumo das leis divinas. Lede, pois, essas páginas ardentes sobre a abnegação de Jesus, e meditai-as.

Homens fortes, armai-vos; homens fracos, fazei da vossa doçura, da vossa fé, as vossas armas; tende mais persuasão e mais constância na propagação de vossa doutrina. É apenas um encorajamento que vimos dar-vos, e é para estimular o vosso zelo e as vossas virtudes, que Deus permite a nossa manifestação. Mas, se quisésseis, bastaria a ajuda de Deus e da vossa própria vontade, pois as manifestações espíritas se produzem somente para os que têm os olhos fechados e os corações indóceis.

A caridade é a virtude fundamental que deve sustentar o edifício das virtudes terrenas; sem ela, as outras não existiriam. Sem a caridade, nada de esperar uma sorte melhor, nenhum interesse moral que nos guie; sem a caridade, nada de fé, pois a fé não é mais do que um raio de luz pura, que faz brilhar uma alma caridosa.

A caridade é a âncora eterna de salvação em todos os mundos: é a mais pura emanação do Criador; é a sua própria virtude, que Ele transmite à criatura. Como pretender desconhecer esta suprema bondade? Qual seria o coração suficientemente perverso para, assim pensando, sufocar em si e depois expulsar este sentimento inteiramente divino? Qual seria o filho bastante mau para revoltar-se com essa doce carícia: a caridade?

Não ousarei falar daquilo que fiz, porque os Espíritos também têm o pudor de suas obras; mas considero a que iniciei como uma das que mais devem contribuir para o alívio de vossos semelhantes. Vejo frequentemente os Espíritos pedirem por missão continuar a minha tarefa; eu os vejo, minhas doces e queridas irmãs, no seu piedoso e divino ministério; eu os vejo praticar a virtude que vos recomendo, com toda a alegria que essa existência de abnegação e sacrifícios proporciona. É uma grande felicidade, para mim, ver quanto se enobrece o seu caráter, quanto a sua missão é amada e docemente protegida. Homens de bem, de boa e forte vontade, uni-vos para continuar amplamente a obra de propagação da caridade. Encontrareis a recompensa dessa virtude no seu próprio exercício. Não há alegria espiritual que ela não proporcione desde a vida presente. Permanecei unidos. Amai-vos uns aos outros, segundo os preceitos do Cristo. Assim seja!

CÁRITAS - Martirizado em Roma, Lyon, 1861

13 – Chamo-me Caridade, sou o caminho principal que conduz a Deus; segui-me, porque eu sou a meta a que vós todos deveis visar.

Fiz nesta manhã o meu passeio habitual, e com o coração magoado venho dizer-vos: Oh, meus amigos, quantas misérias, quantas lágrimas, e quanto tendes de fazer para secá-las todas! Inutilmente tentei consolar as pobres mães, dizendo-lhes ao ouvido: Coragem! Há corações bondosos que velam por vós, que não vos abandonarão; paciência! Deus existe, e vós sois as suas amadas, as suas eleitas. Elas pareciam ouvir-me e voltavam para mim os seus grandes olhos assustados. Eu lia em seus pobres semblantes que o corpo, esse tirano do Espírito, tinha fome, e que, se as minhas palavras lhes tranquilizam um pouco o coração, não lhes saciavam o estômago. Então eu repetia: Coragem! Coragem! E uma pobre mãe, muito jovem, que amamentava uma criancinha, tomou-a nos braços e ergueu-a no espaço vazio, como para me rogar que protegesse aquele pobre e pequeno ser, que só encontrava num seio estéril alimento insuficiente.

Mais adiante, meus amigos, vi pobres velhos sem trabalho e logo sem abrigo, atormentados por todos os sofrimentos da necessidade, e envergonhados de sua miséria, não se atrevendo, eles que jamais mendigaram, a implorar a piedade dos passantes. Coração empolgado de compaixão, eu, que nada tenho, me fiz mendiga para eles, e vou para toda parte estimular a beneficência, inspirar bons pensamentos aos corações generosos e compassivos. Eis por que venho até vós, meus amigos, e vos digo: Lá em baixo há infelizes cuja cesta está sem pão, a lareira sem fogo, o leito sem cobertas. Não vos digo o que deveis fazer, deixo a iniciativa aos vossos bons corações; pois se eu vos ditasse a linha de conduta, não teríeis o mérito de vossas boas ações. Eu vos digo somente: Sou a caridade e vos estendo as mãos pelos vossos irmãos sofredores.

Mas, se peço, também dou, e muito; eu vos convido para um grande festim e ofereço a árvore em que vós todos podereis saciar-vos. Vede como é bela, como está carregada de flores e de frutos! Ide, ide, colhei, tomai todos os frutos dessa bela árvore que se chama beneficência. Em lugar dos ramos que lhe arrancardes, porei todas as boas ações que fizerdes e levarei a árvore a Deus, para que Ele a carregue de novo, porque a beneficência é inesgotável. Segui-me, pois, meus amigos, a fim de que eu vos possa contar entre os que se alistam sob a minha bandeira. Sede intrépidos: eu vos conduzirei pela via da salvação, porque eu sou a Caridade!

CÁRITAS - Lyon, 1861

14 – Há muitas maneiras de fazer a caridade, que tantos de vós confundem com a esmola. Não obstante, há grande diferença entre elas. A esmola, meus amigos, algumas vezes é útil, porque alivia os pobres. Mas é quase sempre humilhante, tanto para o que a dá, quanto para o que a recebe. A caridade, pelo contrário, liga o benfeitor e o beneficiário, e além disso se disfarça de tantas maneiras! A caridade pode ser praticada mesmo entre colegas e amigos, sendo indulgentes uns para com os outros, perdoando-se mutuamente suas fraquezas, cuidando de não ferir o amor próprio de ninguém. Para vós, espíritas, na vossa maneira de agir em relação aos que não pensam convosco, induzindo os menos esclarecidos a crer, sem os chocar, sem afrontar as suas convicções, mas levando-os amigavelmente às reuniões, onde eles poderão ouvir-nos, e onde saberemos encontrar a brecha que nos permitirá penetrar nos seus corações. Eis uma das formas da caridade.

Escutai agora o que é a caridade para com os pobres, esses deserdados do mundo, mas recompensados por Deus, quando sabem aceitar as suas misérias sem murmurações, o que depende de vós. Vou me fazer compreender por um exemplo.

Vejo muitas vezes na semana uma reunião de damas de todas as idades. Para nós, como sabeis, são todas irmãs. Trabalham rápidas, bem rápidas. Os dedos são ágeis. Vede também como os rostos estão radiantes e como os seus corações batem em uníssono! Mas qual o seu objetivo? É que elas veem aproximar-se o inverno, que será rude para as famílias pobres. As formigas não puderam acumular durante o verão os grãos necessários à provisão, e a maior parte de seus utensílios está empenhada. As pobres mães se inquietam e choram, pensando nos filhinhos que, neste inverno, sofrerão frio e fome! Mas tende paciência, pobres mulheres! Deus inspirou a outras, mais afortunadas que vós. Elas se reuniram e confeccionam roupinhas. Depois, num destes dias, quando a neve tiver coberto a terra, e murmurardes, dizendo: “Deus não é justo!”, pois é esta a expressão comum dos vossos períodos de sofrimento, então vereis aparecer um dos enviados dessas boas trabalhadoras, que se constituíram em operárias dos pobres. Sim, era para vós que elas trabalhavam assim e vossos murmúrios se transformarão em bênçãos, porque, no coração dos infelizes, o amor segue de bem perto o ódio.

Como todas essas trabalhadoras necessitavam de encorajamento, vejo as comunicações dos Bons Espíritos lhes chegarem de todas as partes. Os homens que participam desta sociedade oferecem também o seu concurso, fazendo uma dessas leituras que tanto agradam. E nós, para recompensar o zelo de todos e de cada um em particular, prometemos a essas obreiras laboriosas uma boa clientela, que as pagará em moeda sonante de bênçãos, a única moeda que circula no céu, assegurando-lhes ainda, sem medo de nos arriscarmos, que essa moeda não lhes faltará.

UM ESPÍRITO PROTETOR - Lyon, 1861

15 – Meus caros amigos, cada dia ouço dizerem entre vós: “Sou pobre, não posso fazer a caridade”. E cada dia, vê que faltais com a indulgência para com os vossos semelhantes. Não lhes perdoais coisa alguma, e vos arvorais em juízes demasiado severos, sem vos perguntar se gostaríeis que fizessem o mesmo a vosso respeito. A indulgência não é também caridade? Vós, que não podeis fazer mais do que a caridade indulgente, faz pelo menos essa, mas fazei-a com grandeza. Pelo que respeita à caridade material, quero contar-vos uma história do outro mundo.

Dois homens acabavam de morrer. Deus havia dito: “Enquanto esses dois homens viverem, serão postas as suas boas ações num saco para cada um, e quando morrerem, serão pesados esses sacos”. Quando ambos chegaram à sua última hora. Deus mandou que lhe levassem os dois sacos. Um estava cheio, volumoso, estufado, e retinia o metal dentro dele. O outro era tão pequeno e fino, que se viam através do pano as poucas moedas que continha. Cada um dos homens reconheceu o que lhe pertencia: “Eis o meu, — disse o primeiro — eu o conheço; fui rico e distribui bastante!” O outro: “Eis o meu. Fui sempre pobre, ah! Não tinha quase nada para distribuir”. Mas, ó surpresa: postos na balança, o maior tornou-se leve e o pequeno se fez pesado, tanto que elevou muito o outro prato da balança. Então, Deus disse ao rico: “Deste muito, é verdade, mas o fizeste por ostentação, e para ver o teu nome figurando em todos os templos do orgulho. Além disso, ao dar, não te privaste de nada. Passa à esquerda e fica satisfeito, por te ser contada a esmola como alguma coisa”. Depois, disse ao pobre: “Deste bem pouco, meu amigo, mas cada uma das moedas que estão na balança representou uma privação para ti. Se não distribuíste a esmola, fizeste a caridade, e o melhor é que a fizeste naturalmente, sem te preocupares de que a levassem à tua conta. Foste indulgente; não julgaste o teu semelhante; pelo contrário, encontraste desculpas para todas as suas ações. Passa à direita, e vai receber a tua recompensa.

JOÃO Bordeaux, 1861

16 – A mulher rica, feliz, que não tem necessidade de empregar o seu tempo nos trabalhos da casa, não pode dedicar algumas horas ao serviço do próximo? Que, com as sobras dos seus gastos felizes, compre agasalhos para o infeliz que tirita de frio; com suas mãos delicadas, confeccione roupas grosseiras, mas quentes, e ajude a mãe pobre a vestir o filho que vai nascer. Se o seu filho, com isso, ficar com alguns rendados de menos, o daquela terá mais calor. Trabalhar para os pobres é trabalhar na vinha do Senhor.

E tu, pobre operária, que não dispõe de sobras, mas que desejas, no amor por teus irmãos, dar também um pouco do que possuis, oferece algumas horas do teu dia, do teu tempo, que é o teu único tesouro. Faze alguns desses trabalhos elegantes que tentam os felizes, vende o produto dos teus serões, e poderás também proporcionar, a teus irmãos a tua parte de alívio. Terás, talvez, algumas fitas a menos, mas darás sapatos aos que vivem descalços.

E vós, mulheres devotadas a Deus, trabalhai também para as vossas obras piedosas, mas que os vossos trabalhos delicados e custosos não sejam feitos apenas para ornar as vossas capelas, ou para atrair a atenção sobre a vossa habilidade e paciência. Trabalhai, minhas filhas, e que o resultado de vossas obras seja consagrado ao alívio de vossos irmãos em Deus. Os pobres são os seus filhos bem amados: trabalhar por eles é glorificá-lo. Sede os instrumentos da Providência, que diz: “Às aves do céu, Deus dá o alimento”. Que o ouro e a prata, tecidos pelos vossos dedos, se transformem em roupas e provisões para os necessitados. Fazei isso, e o vosso trabalho será abençoado.

E todos vós, que podeis produzir, daí: daí o vosso gênio, daí as vossas inspirações, daí o vosso coração, que Deus vos abençoará. Poetas, literatos, que sois lidos somente pela gente de sociedade, preenchei os seus lazeres, mas que o produto de algumas de vossas obras seja destinado ao alívio dos infelizes. Pintores, escultores, artistas de todos os gêneros, que a vossa inteligência venha também ajudar os vossos irmãos: não tereis menos glória por isso, e eles terão alguns sofrimentos a menos.

Todos vós podeis dar: a qualquer classe a que pertençais, tereis sempre alguma coisa que pode ser dividida. Seja o que for que Deus vos tenha dado, deveis uma parcela aos que não têm sequer o necessário, pois em seu lugar ficaríeis contentes, se alguém dividisse convosco. Vossos tesouros da terra diminuirão um pouco, mas vossos tesouros do céu serão mais abundantes: colhereis pelo cêntuplo, lá em cima, o que semeardes em benefícios aqui em baixo.

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