O EVANGELHO SEGUNDO O
ESPIRITISMO
Cap. 16 - SERVIR A DEUS
E A MAMON
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– Se a riqueza tivesse de ser um obstáculo absoluto à salvação dos que a
possuem, como se poderia inferir de certas expressões de Jesus, interpretadas
segundo a letra e não segundo o espírito? Deus, que a distribui, teria posto
nas mãos de alguns um instrumento fatal de perdição, o que repugna à razão. A
riqueza é, sem dúvida, uma prova mais arriscada, mais perigosa que a miséria,
em virtude das excitações e das tentações que oferece, da fascinação que
exerce. É o supremo excitante do orgulho, do egoísmo e da vida sensual.
É
o laço que mais poderosamente liga o homem a Terra e desvia os seus pensamentos
do céu. Produz tamanha vertigem, que vemos quase sempre os que passam da
miséria à fortuna esquecerem-se rapidamente da sua antiga posição, bem como dos
seus companheiros, dos que os ajudaram, tornando-se insensíveis, egoístas e
fúteis.
Mas,
por tornar o caminho mais difícil, não se segue que o torne inviável, e não
possa vir a ser um meio de salvação nas mãos do que a sabe utilizar, como
certos venenos que restabelecem a saúde, quando empregados a propósito e com
discernimento.
Quando
Jesus disse ao moço que interrogava sobre os meios de atingir a vida eterna:
“Desfaze-te de todos os bens, e segue-me”, não pretendia estabelecer como
princípio absoluto que cada um devia despojar-se do que possui, e que a
salvação só se consegue a esse preço, mas mostrar que o apego aos bens terrenos
é um obstáculo à salvação. Aquele moço, com efeito, julgava-se quite com a lei,
porque havia observado certos mandamentos, e, no entanto recusava à idéia de
abandonar os seus bens; seu desejo de obter a vida eterna não ia até esse
sacrifício.
A
proposição que Jesus lhe fazia era uma prova decisiva, para por às claras o
fundo do seu pensamento. Ele podia, sem dúvida, ser um padrão de homem honesto,
segundo o mundo, não prejudicar a ninguém, não maldizer o próximo, não ser
frívolo, nem orgulhoso, honrar ao pai e a mãe. Mas não tinha a verdadeira
caridade, pois a sua virtude não chegava até à abnegação. Eis o que Jesus quis
demonstrar. Era uma aplicação do princípio: Fora da caridade não há salvação.
A
conseqüência daquelas palavras, tomadas na sua mais rigorosa acepção, seria a
abolição da fortuna, como prejudicial à felicidade futura e como fonte de
incontáveis males terrenos; e isso seria também a condenação do trabalho, que a
pode proporcionar.
Conseqüência
absurda, que reconduziria o homem à vida selvagem, e que, por isso mesmo,
estaria em contradição com a lei do progresso, que é uma lei de Deus.
Se
a riqueza é a fonte de muitos males, se excita tantas más paixões, se provoca
mesmo tantos crimes, não é a ela que devemos ater-nos, mas o homem que dela
abusa, como abusa de todos os dons de Deus.
Pelo
abuso, ele torna pernicioso o que poderia ser-lhe mais útil, o que é uma
conseqüência do estado de inferioridade do mundo terreno. Se a riqueza só
tivesse de produzir o mal, Deus não a teria posto na Terra. Cabe ao homem transformá-la
em fonte do bem. Se ela não é uma causa imediata do progresso moral, é, sem
contestação, um poderoso elemento do progresso intelectual.
O
homem, com efeito, tem por missão trabalhar pela melhoria material do globo.
Deve desbravá-lo, saneá-lo, dispô-lo para um dia receber toda a população que a
sua extensão comporta. Para alimentar essa população, que cresce sem cessar,
deve aumentar a produção. Se a produção de uma região for insuficiente, precisa
ir buscá-la noutra. Por isso mesmo, as relações de povo a povo tornam-se uma
necessidade, e para facilitá-las é forçoso destruir os obstáculos materiais que
os separam, tornar mais rápidas as comunicações.
Para
os trabalhos das gerações, que se realizam através dos séculos, o homem teve de
extrair materiais das próprias entranhas da terra. Procurou na ciência os meios
de executá-los mais rápida e seguramente; mas, para fazê-lo, necessitava de
recursos: a própria necessidade o levou a produzir a riqueza, como o havia
feito descobrir a ciência. A atividade exigida por esses trabalhos lhe aumenta
e desenvolve a inteligência. Essa inteligência, que ele a princípio concentra
na satisfação de suas necessidades materiais, o ajudará mais tarde a
compreender as grandes verdades morais.
A
riqueza, portanto, sendo o primeiro meio de execução, sem ela não haveria
grandes trabalhos, nem atividade, nem estímulo, nem pesquisas: com razão, pois,
é considerada elemento de progresso.
Fonte da imagem:
Internet Google.
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