O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
Cap. 7 –
Bem Aventurados Os Pobres De Espírito
LACORDAIRE
- Constantina, 1863
11
– Que a paz do senhor esteja convosco, meus queridos amigos! Venho até vós para
encorajar-vos a seguir o bom caminho.
Aos
pobres de Espíritos que outrora viveram na Terra, Deus concede a missão de vir
esclarecer-vos. Bendito seja pela graça que nos dá, de podermos ajudar o vosso
adiantamento. Que o Espírito Santo me ilumine, me ajude a tornar compreensível
a minha palavra, e me conceda a graça de pô-la ao alcance de todos. Todos vós,
encarnados, que estais sob a pena e procurais a luz, que a vontade de Deus
venha em minha ajuda, para fazê-la brilhar aos vossos olhos!
A
humildade é uma virtude bem esquecida, entre vós. Os grandes exemplos que vos
foram dados são tão poucos seguidos. E, no entanto, sem humildade, podeis ser
caridosos para o vosso próximo?
Oh!,
não, porque esse sentimento nivela os homens, mostra-lhes que são irmãos, que
devem ajudar-se mutuamente, e os encaminha ao bem. Sem a humildade,
enfeitai-vos de virtudes que não possuis, como se vestísseis um hábito para
ocultar as deformidades do corpo.
Lembrai-vos
daquele que nos salva; lembrai-vos da sua humildade, que o fez tão grande e o
elevou acima de todos os profetas.
O
orgulho é o terrível adversário da humildade. Se o Cristo prometeu o Reino dos
Céus aos mais pobres, foi porque os grandes da Terra imaginavam que os títulos
e as riquezas eram a recompensa de seus méritos, e que a sua essência era mais
pura que a do pobre.
Acreditavam
que essas coisas lhes eram devidas, e por isso, quando Deus as retira,
acusam-no de injustiça. Oh, irrisão e cegueira! Deus, acaso, estabeleceu entre
vós alguma distinção pelos corpos? O invólucro do pobre não é o mesmo do rico?
O Criador fez duas espécies de homens? Tudo quanto Deus fez é grande e sábio.
Não lhe atribuais as idéias concebidas por vossos cérebros orgulhosos.
Oh!,
rico! Enquanto dormes em teus aposentos suntuosos, ao abrigo do frio, não sabes
quantos milhares de irmãos, iguais a ti, jazem na miséria? O desgraçado faminto
não é teu igual? Bem sei que o teu orgulho se revolta com estas palavras.
Concordarás em lhe dar uma esmola; nunca, porém, em lhe apertar fraternalmente
a mão. Que! exclamarás: Eu, nascido de sangue nobre, um dos grandes da Terra,
ser igual a esse miserável estropiado? Vã utopia de pretensos filósofos! Se
fôssemos iguais, porque Deus o teria colocado tão baixo e a mim tão alto? É
verdade que vossas roupas não são nada iguais, mas, se vos despirdes a ambos,
qual a diferença que então haverá entre vós? A nobreza do sangue, dirás. Mas a
química não encontrou diferenças entre o sangue do nobre e do plebeu, entre o
do senhor e o do escravo. Quem te diz que também não foste miserável como ele?
Que não pediste esmolas? Que não a pedirás um dia a esse mesmo que hoje
desprezas? As riquezas são por acaso eternas? Não acabam com o corpo, invólucro
perecível do Espírito? Oh, debruça-te humildemente sobre ti mesmo! Lança enfim
os olhos sobre a realidade das coisas desse mundo, sobre o que constitui a
grandeza e a humilhação no outro; pensa que a morte não te poupará mais do que
aos outros; que os teus títulos não te preservarão dela; que te pode ferir
amanhã, hoje, dentro de uma hora; e se ainda te sepultas no teu orgulho, oh!
Então, eu te lamento, porque serás digno de piedade!
Orgulhosos!
Que fostes, antes de serdes nobres e poderosos? Talvez mais humildes que o
último de vossos servos. Curvai, portanto, vossas frontes altivas, que Deus as
pode rebaixar, no momento mesmo em que as elevais mais alto. Todos os homens
são iguais na balança divina; somente as virtudes os distinguem aos olhos de
Deus. Todos os Espíritos são da mesma essência, e todos os corpos foram feitos
da mesma massa.
Vossos
títulos e vossos nomes em nada a modificam; ficam no túmulo; não são eles que
dão a felicidade prometida aos eleitos; a caridade e a humildade são os seus
títulos de nobreza.
Pobre
criatura! És mãe, e teus filhos sofrem. Estão com frio. Têm fome. Vais, curvada
ao peso da tua cruz, humilhar-te para conseguir um pedaço de pão. Oh, eu me
inclino diante de ti! Como és nobre, santa e grande aos meus olhos! Espera e
ora: a felicidade ainda não é deste mundo. Aos pobres oprimidos, que nele
confiam, Deus concede o Reino dos Céus.
E
tu, que és moça, pobre filha devotada ao trabalho, entregue às privações, por
que esses tristes pensamentos? Por que chorar? Que teus olhos se voltem,
piedosos e serenos, para Deus: às aves do céu ele dá o alimento. Confia nele,
que não te abandonará. O ruído das festas, dos prazeres mundanos, te faz bater
o coração. Querias também enfeitar de flores a fronte e misturar-te aos felizes
da Terra, dizes que poderias, como as mulheres que vês passar, estouvadas e
alegres, ser rica também. Oh, cala-te, filha! Se soubesses quantas lágrimas e
dores sem conta se ocultam sob esses vestidos bordados, quantos suspiros se
asfixiam sob o ruído dessa orquestra feliz, preferirias teu humilde retiro e
tua pobreza. Conserva-te pura aos olhos de Deus, se não queres que o teu anjo
da guarda volte para Ele, escondendo o rosto sob as asas brancas, e te deixe
com os teus remorsos, sem guia, sem apoio, neste mundo em que estarias perdida,
esperando a punição no outro. E todos vós que sofreis as injustiças dos homens,
sede indulgentes para as faltas dos vossos irmãos, lembrando que vós mesmos não
estais sem manchas: isso é caridade, mas é também humildade. Se suportais
calúnias, curvai a fronte diante da prova. Que vos importam as calúnias do
mundo? Se vossa conduta é pura, Deus não pode vos recompensar? Suportar
corajosamente as humilhações dos homens, é ser humilde e reconhecer que só Deus
é grande e todo-poderoso.
Oh!,
meu Deus, será preciso que o Cristo volte novamente a Terra, para ensinar aos
homens as tuas leis, que eles esquecem? Deverá ele ainda expulsar os vendilhões
do templo, que maculam tua casa, esse recinto de orações? E, quem sabe?, oh,
homens, se Deus vos concedesse essa graça, se não o renegaríeis de novo, como
outrora? Se não o acusaríeis de blasfemo, por vir abater o orgulho dos fariseus
modernos? Talvez, mesmo, se não o faríeis seguir de novo o caminho do Gólgota?
Quando
Moisés subiu ao Monte Sinai, para receber os mandamentos da Lei de Deus, o povo
de Israel, entregue a si mesmo, abandonou o verdadeiro Deus. Homens e mulheres
entregaram seu ouro, para a fabricação de um ídolo que abandonaram. Homens
civilizados fazeis, entretanto, como eles. O Cristo vos deixou a sua doutrina,
vos deu o exemplo de todas as virtudes, mas abandonastes exemplos e preceitos. Cada
um de vós, carregando as suas paixões, fabricou um deus de acordo com a sua
vontade: para uns terrível e sanguinário; para outros, indiferente aos
interesses do mundo. O deus que fizestes é ainda o bezerro de ouro, que cada
qual apropria aos seus gostos e às suas idéias.
Despertai,
meus irmãos, meus amigos! Que a voz dos Espíritos vos toque o coração.
Sede
generosos e caridosos, sem ostentação. Quer dizer: fazei o bem com humildade.
Que
cada um vá demolindo aos poucos os altares elevados ao orgulho. Numa palavra:
sede verdadeiros cristãos, e atingireis o reino da verdade. Não duvideis mais
da bondade de Deus, agora que Ele vos envia tantas provas. Viemos preparar o
caminho para o cumprimento das profecias. Quando o Senhor vos der uma
manifestação mais esplendente da sua clemência, que o enviado celeste vos
encontre reunidos numa grande família; que os vossos corações, brandos e
humildes, sejam dignos de receber a palavra divina que Ele vos trará; que o
eleito não encontre em seu caminho senão as palmas dispostas pelo vosso retorno
ao bem, à caridade, à fraternidade; e então o vosso mundo se tornará um paraíso
terreno.
Mas
se permanecerdes insensíveis à voz dos Espíritos, enviados para purificar e
renovar as vossas sociedades civilizadas, ricas em conhecimentos e não obstante
tão pobre de bons sentimentos, ah! nada mais nos restarás do que chorar e gemer
pela vossa sorte. Mas, não, assim não acontecerá. Voltai-vos para Deus, vosso
pai, e então nós todos, que trabalhamos para o cumprimento da sua vontade,
entoaremos o cântico de agradecimento ao Senhor, por sua inesgotável bondade, e
para o glorificar por todos os séculos.
Assim
seja.
Fonte da imagem:
Internet Google.
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