O EVANGELHO SEGUNDO O
ESPIRITISMO
Cap. 16 - SERVIR A DEUS
E A MAMON
PASCAL
- Genebra, 1860
9
– O homem não possui como seu senão aquilo que pode levar deste mundo. O que
ele encontra ao chegar e o que deixa ao partir; goza durante sua permanência na
Terra; mas, desde que é forçado a deixá-los, é claro que só tem o usufruto, e
não a posse real. O que é, então, que ele possui? Nada do que se destina ao uso
do corpo, e tudo o que se refere ao uso da alma: a inteligência, os conhecimentos,
as qualidades morais. Eis o que ele traz e leva consigo, o que ninguém tem o
poder de tirar-lhe, e o que ainda mais lhe servirá no outro mundo do que neste.
Dele
depende estar mais rico ao partir do que ao chegar neste mundo, porque a sua
posição futura depende do que ele houver adquirido no bem. Quando um homem
parte para um país longínquo, arruma a sua bagagem com objetos de uso nesse
país e não se carrega de coisas que lhe seriam inúteis. Fazei, pois, o mesmo,
em relação à vida futura, aprovisionando-vos de tudo o que nela vos poderá
servir.
Ao
viajante que chega a uma estalagem, se ele pode pagar, é dado um bom
alojamento; ao que pode menos, é dado um pior; e ao que nada tem, é deixado ao
relento. Assim acontece com o homem, quando chega ao mundo dos Espíritos: sua
posição depende de suas posses, com a diferença de que não pode pagar em ouro. Não se lhe
perguntará: Quanto tínheis na Terra? Que posição ocupáveis? Éreis príncipe ou
operário? Mas lhe será perguntado: O que trazeis? Não será computado o valor de
seus bens, nem dos seus títulos, mas serão contadas as suas virtudes, e nesse
cálculo o operário talvez seja considerado mais rico do que o príncipe.
Em
vão alegará o homem que, antes de partir, pagou em ouro a sua entrada no céu,
pois terá como resposta: as posições daqui não são compradas, mas ganhas pela
prática do bem; com o dinheiro podeis comprar terras, casas, palácios; mas aqui
só valem a qualidades do coração. Sois rico dessas qualidades? Então, sejas bem
vindo, e teu é o primeiro lugar, onde todas as venturas vos esperam. Sois
pobre? Ide para o último, onde sereis tratado na razão de vossas posses.
M.,
Espírito Protetor - Bruxelas, 1861
10
– Os bens da Terra pertencem a Deus, que os dispensa de acordo com a sua
vontade. O homem é apenas o seu usufrutuário, o administrador mais ou menos
íntegro e inteligente. Pertencem tão pouco ao homem, como propriedade
individual, que Deus freqüentemente frustra todas as suas previsões, fazendo a
fortuna escapar daqueles mesmos que julgam possuí-la com os melhores títulos.
Direis
talvez que isso se compreende em relação à fortuna hereditária, mas não aquela
que o homem adquiriu pelo seu trabalho.
Não
há dúvida que, se há uma fortuna legítima, é a que foi adquirida honestamente,
porque uma propriedade só é legitimamente adquirida quando, para conquistá-la,
não se prejudicou a ninguém. Pedir-se-á conta de um centavo mal adquirido, em
prejuízo de alguém. Mas por que um homem conquistou por si mesmo a sua fortuna,
terá alguma vantagem ao morrer? Não são freqüentemente inúteis os cuidados que
ele toma para transmiti-la aos descendentes? Pois se Deus não quiser que estes
a recebam, nada prevalecerá sobre a sua vontade.
Poderá
ele usar e abusar de sua fortuna, impunemente, durante a vida, sem ter de
prestar contas? Não, pois ao lhe permitir adquiri-la, Deus pode ter querido
recompensar, durante esta vida, os seus esforços, a sua coragem, a sua
perseverança; mas se ele somente a empregou para a satisfação dos seus sentidos
e do seu orgulho, se ela se tornou para ele uma causa de queda, melhor seria
não a ter possuído. Nesse caso, ele perde de um lado o que ganhou de outro,
anulando por si mesmo o mérito do seu trabalho, e quando deixar a Terra, Deus
lhe dirá que já recebeu a sua recompensa.
Fonte da imagem:
Internet Google.
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