Cap. 26 - DAR DE GRAÇA
O QUE DE GRAÇA RECEBER
7. Os médiuns atuais -
pois que também os apóstolos tinham mediunidade e igualmente receberam de Deus
um dom gratuito: o de serem intérpretes dos Espíritos, para instrução dos
homens, para lhes mostrar o caminho do bem e conduzi-los à fé, não para lhes
vender palavras que não lhes pertencem, a eles médiuns, visto que não são fruto
de suas concepções, nem de suas pesquisas, nem de seus trabalhos pessoais.
Deus quer que a luz
chegue a todos; não quer que o mais pobre fique dela privado e possa dizer: não
tenho fé, porque não a pude pagar; não tive o consolo de receber os
encorajamentos e os testemunhos de afeição dos que pranteio, porque sou pobre.
Tal a razão por que a
mediunidade não constitui privilégio e se encontra por toda parte. Fazê-la paga
seria, pois, desviá-la do seu providencial objetivo.
8. Quem conhece as
condições em que os bons Espíritos se comunicam; a repulsão que sentem por tudo
o que é de interesse egoístico, e sabe quão pouca coisa se faz mister para que
eles se afastem, jamais poderá admitir que os Espíritos superiores estejam à
disposição do primeiro que apareça e os convoque a tanto por sessão.
O simples bom senso
repele semelhante ideia. Não seria também uma profanação evocarmos, por
dinheiro, os seres que respeitamos, ou que nos são caros?
É fora de dúvida que
se podem assim obter manifestações; mas, quem lhes poderia garantir a
sinceridade?
Os Espíritos levianos,
mentirosos, brincalhões e toda a caterva dos Espíritos inferiores, nada
escrupulosos, sempre acorrem; prontos a responder ao que se lhes pergunte, sem
se preocuparem com a verdade.
Quem, pois, deseje
comunicações sérias deve, antes de tudo, pedi-las seriamente e, em seguida,
inteirar-se da natureza das simpatias do médium com os seres do mundo
espiritual. Ora, a primeira condição para se granjear a benevolência dos bons
Espíritos é a humildade, o devotamento, a abnegação, o mais absoluto
desinteresse moral e material.
9. A par da questão
moral, apresenta-se uma consideração efetiva não menos importante, que entende
com a natureza mesma da faculdade.
A mediunidade séria
não pode ser e não o será nunca uma profissão, não só porque se desacreditaria
moralmente, identificada para logo com a dos ledores da boa-sorte, como também
porque um obstáculo a isso se opõe. É que se trata de uma faculdade
essencialmente móvel, fugidia e mutável, com cuja perenidade, pois, ninguém
pode contar.
Constituiria,
portanto, para o explorador, uma fonte absolutamente incerta de receitas, de
natureza a poder faltar-lhe no momento exato em que mais necessária lhe fosse.
Coisa diversa é o
talento adquirido pelo estudo, pelo trabalho e que, por essa razão mesma,
representa uma propriedade da qual naturalmente lícito é, ao seu possuidor,
tirar partido.
A mediunidade, porém,
não é uma arte, nem um talento, pelo que não pode tornar-se uma profissão. Ela
não existe sem o concurso dos Espíritos; faltando estes, já não há mediunidade.
Pode subsistir a aptidão, mas o seu exercício se anula.
Daí vem não haver no
mundo um único médium capaz de garantir a obtenção de qualquer fenômeno
espírita em dado instante. Explorar alguém a mediunidade é, conseguintemente,
dispor de uma coisa da qual não é realmente dono. Afirmar o contrário é enganar
a quem paga. Há mais: não é de si próprio que o explorador dispõe; é do
concurso dos Espíritos, das almas dos mortos, que ele põe a preço de moeda.
Essa ideia causa
instintiva repugnância. Foi esse tráfico, degenerado em abuso, explorado pelo
charlatanismo, pela ignorância, pela credulidade e pela superstição que motivou
a proibição de Moisés. O moderno Espiritismo, compreendendo o lado sério da
questão, pelo descrédito a que lançou essa exploração, elevou a mediunidade à
categoria de missão. (Veja-se: O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, cap. XXVIII. - O
Céu e o Inferno, 1ª Parte, cap. XI).
10. A mediunidade é
coisa santa, que deve ser praticada santamente, religiosamente. Se há um gênero
de mediunidade que requeira essa condição de modo ainda mais absoluto é a
mediunidade curadora. O médico dá o fruto de seus estudos, feitos, muita vez, à
custa de sacrifícios penosos. O magnetizador dá o seu próprio fluido, por vezes
até a sua saúde. Pode pôr lhes preço? O médium curador transmite o fluido
salutar dos bons Espíritos; não tem o direito de vendê-lo.
Jesus e os apóstolos,
ainda que pobres, nada cobravam pelas curas que operavam.
Procure, pois, aquele
que carece do que viver; recursos em qualquer parte, menos na mediunidade; não
lhe consagre, se assim for preciso, senão o tempo de que materialmente possa
dispor. Os Espíritos lhe levarão em conta o devotamento e os sacrifícios, ao
passo que se afastam dos que esperam fazer deles uma escada por onde subam.
Fonte da imagem:
Internet Google.
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